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Este trabalho foi realizado no âmbito da Tese de Licenciatura de Samuel Bastos na Zürcher Hochschule der Künste durante o ano lectivo 2008/2009
As Sequências
As Sequenzas para instrumento solo do compositor Luciano Berio são sem dúvida um ponto de referência fundamental para a escrita instrumental contemporânea. Numa série de dez peças, aparentemente escritas espontaneamente, de improviso, o compositor encerra uma análise bastante pertinente da história da composição para instrumentos a solo na música ocidental. Nessas peças a linguagem virtuosística é claramente revisitada, dotada de uma pulsação e acontecimentos quase ininterruptos, procedimentos diversos perseguem o jogo esquecido da tensão e do relaxamento tonal. Nasce daí o aspecto orgânico quase fisiológico dessas peças, onde aflora a constante alternância entre equilíbrio e desequilíbrio, espera e resolução.
Entre 1958 e 2002, Luciano Berio escreveu catorze peças intitulada Sequenza, juntamente com várias versões do mesmo trabalho para os diferentes instrumentos, revisões das peças originais e também o paralelo chemins série, onde uma das Sequenzas é utilizada como base para uma nova composição em maior escala. As Sequenzas são uma série das mais notáveis realizações de finais do século XX, uma colecção de peças virtuosistas que explora as capacidades de um instrumento solo como também dos seus próprios intérpretes visto que são obras de extrema exigência técnica.
David Osmond-Smith, defendia que as Sequenzas se dividiam em três categorias principais: (1) questões de desempenho (2); Berio e o seu género de composição, processos e Estética; (3) abordagens analíticas.
Musicologo que infelizmente faleceu, assim que editou um livro dedicado às Sequencias.
As Sequenzas foram significativamente influentes no desenvolvimento da composição para instrumentos solo e voz, até aos dias de hoje não temos qualquer serie de obras compostas por outros compositores equiparadas às Sequenzas de L Berio. Série de peças que estão ligadas a diferentes instrumentos, Berio consegue explorar ao máximo todas as possibilidades técnicas e físicas do instrumento como por exemplo, a pesquisa e a introdução de novas técnicas da música moderna. Com isso demonstra uma riqueza a nível de repertório para diferentes instrumentos, o que na época foi um marco decisivo para toda a História da Música Ocidental.
Cronologia de todas as Sequências
Sequência |
Instrumento |
Ano |
Sequenza I |
Flauta |
1958 |
Sequenza II |
Harpa |
1963 |
Sequenza III |
Canto |
1965 |
Sequenza IV |
Piano |
1966 |
Sequenza V |
Trombone |
1965 |
Sequenza VI |
Viola |
1967 |
Sequenza VII |
Oboe |
1969 |
Sequenza VIIb |
Saxofone soprano |
1993 |
Sequenza VIII |
Violino |
1976 |
Sequenza IX |
Clarinete |
1980 |
Sequenza IXb |
Saxofone alto |
1981 |
Sequenza IXc |
Clarone |
1980 |
Sequenza X |
Trombone e Piano |
1984 |
Sequenza XI |
Guitarra |
1987/88 |
Sequenza XII |
Fagote |
1995 |
Sequenza XIII |
Acordeon “Chanson” |
1995 |
Sequenza XIV |
Violoncelo |
2002 |
Sequenza XIVb |
Contrabaixo |
2004 |
Sequenza VII per Oboe - Forma
A Sequenza VII está dividida em 3 secções:
SECÇÃO I: Início (Linha 1, Compasso 1) até à 1ª fermata (L. 8, C. 1.) Esta secção é de aprox. 176 " de duração. Em termos rítmicos contém principalmente “Notação Espacial” com apenas algumas variantes rítmicas. Começa com um si natural a que podemos chamar de um som "livre" ou "improvisado" que vai permanecer durante toda a obra. A secção I contém apenas 3 fermatas, portanto é muito activa comparando em especial com a seção III.
SECÇÃO II: Após a 1ª fermata (L. 8, C. 1) até à 2ª fermata (L. 10, C. 4 ) Esta secção é de aprox. 60 "de duração e contém apenas 1 fermata. A secção II em termos de rítmicos tem uma forma: espacial - estrita - espacial - estrita – espacial.
Podemos encontrar pela 1ªvez a nota mais aguda de toda a peça "sol" (L. 9, C. 5) que anuncia o clímax da mesma, mais à frente volta a aparecer numa nota longa com Flaterzung (L. 10, C. 6-9). O início e o final da secção II, é muito semelhante ao início e ao fim da peça. Esta secção é o centro de toda a Sequenza.
SECÇÃO III: Após a 2ª fermata (L. 10, C. 4) até à (L. 13, C. 13). Esta secção é de aprox. 172 " de duração (quase igual à duração da secção I.) Começa com cerca de 11 segundos de ( "free sonantes"). Estas incluem o climax "sol" e termina numa das partes mais importantes da peça (L. 10, C. 12).
Depois desta parte a Sequenza VII é inteiramente constituída de material “Ritmo Livre”. Por conseguinte, esta última secção do Sequenza VII é muito diferente das anteriores. É quase tudo "estritos sonantes" e contém muitas fermatas (24 das 30 que constituem a sequenza). Estes fermatas criam muitos "stop-tempos" com notas ou multiphonicos. Toda esta secção pode ser pensada como um grande ritard. das 2 primeiras secções. Podemos ver que a partir de uma certa altura dá a sensação de que a obra vai terminar. A ultima fermata tem 6” segundos é uma das poucas fermatas em toda a Sequenza que mais tempo dura.
Berio Sequenza VII Escala Informações Básicas
Nota |
Linha |
Compasso |
h 1 |
1 |
1 |
c 3 |
2 |
1 |
b |
2 |
1 |
a 2 |
2 |
5 |
d 1 |
2 |
5 |
fis 2 |
3 |
7 |
des 3 |
3 |
8 |
gis 2 |
4 |
1 |
e 1 |
4 |
8 |
f 2 |
4 |
8 |
es 1 |
5 |
1 |
g 3 |
9 |
5 |
Estas 12 notas vão multiplicando-se durante toda a peça. Ao todo são 29 notas que vão marcando posição durante toda a obra. Algumas dessas 29 notas só surgem perto do final da peça. A Sequenza VII começa com apenas um si mas pouco a pouco começa a surgir gradualmente e isoladamente mais notas, enriquecendo a linguagem da peça.
Há 5 notas que não estão presentes em toda a Sequenza: b klein, b2, c1, d3 e f1. Assim, das 34 notas entre o b klein até ao g3 a Sequenza tem 29 (ver Tabela 3).
Eu como já toquei a peça várias vezes recomendo a todos os oboístas a destacar na partitura, onde cada nota é introduzida. É bom saber-mos e ter-mos consciência onde e como a peça se desenvolve.
Nota |
Linha |
Compasso |
h1 |
1 |
1 |
c3 |
2 |
1 |
b klein |
2 |
1 |
a2 |
2 |
5 |
d1 |
2 |
5 |
b2 |
3 |
1 |
fis2 |
3 |
7 |
gis2 |
4 |
1 |
des3 |
4 |
7 |
e1 |
4 |
8 |
f2 |
4 |
8 |
es1 |
5 |
5 |
dis2 |
7 |
5 |
c2 |
8 |
8 |
d2 |
8 |
9 |
e3 |
9 |
1 |
gis1 |
9 |
5 |
g3 |
9 |
5 |
cis2 |
9 |
12 |
cis1 |
10 |
2 |
e2 |
11 |
2 |
fis1 |
11 |
2 |
g2 |
11 |
4 |
ais1 |
11 |
4 |
a1 |
11 |
10 |
es3 |
11 |
11 |
g1 |
12 |
2 |
fis3 |
12 |
8 |
f3 |
13 |
5 |
Para vermos mais ao pormenor onde cada acção(nota) se desenvolve, eu decidi criar mais uma tabela(Tabela 4) onde podemos ver linha por linha quantas notas existem. Todas as notas a negrito correspondem às novas, todas as outras são as notas que já vinham de trás.
Linha |
Notas |
Total |
1 |
h1 |
1 |
2 |
h1,c3,kleines b,a2,d1 |
5 |
3 |
h1,c3,k.b,a2,d1,b2,fis2 |
7 |
4 |
h1,c3,k.b,a2,d1,fis2,gis2,des3,e1,f2 |
10 |
5 |
h1,c3,k.b,a2,d1,b2,fis2,gis2,des3,e1,f2,es1 |
12 |
6 |
h1,c3,k.b,a2,d1,b2,fis2,des3,e1,f2,es1, |
11 |
7 |
h1,c3,k.b,a2,d1,b2,fis2,des3,e1,f2,es1,dis2 |
12 |
8 |
h1,c3,a2,b2,gis2,des3,e1,f2,es1,dis2,c2,d2 |
12 |
9 |
h1,c3,k.b,a2,d1,fis2,b2,gis2,des3,e1,f2,es1,c2,e3,gis1,g3,cis2 |
17 |
10 |
h1,c3,k.b,a2,d1,fis2,gis2,des3,e1,f2,es1,c2,e3,g3,cis2,cis1 |
16 |
11 |
h1,c3,k.b,a2,d1,b2,fis2,gis2,des3,e1,f2,es1,e2,fis1,g2,ais1,a1,es3 |
18 |
12 |
h1,c3,a2,b2,fis2,gis2,des3,e1,f2,es1,c2,d2,e3,g3,cis2,e2,fis1,a1,es3,g1,fis3 |
21 |
13 |
h1,c3,a2,b2,fis2,fis2,gis2,des3,f2,d2,cis2,g1,es2,dis2,b1,e3,f3 |
17 |
Depois de analisar-mos esta tabela (Tabela 4) podemos mais uma vez provar que na realidade são estas 29 notas que fazem com que a obra possa ter este desenrolar, criando uma sensação de sequência. Já sabemos que Berio utiliza uma (escala) composta por 12 notas base (Tabela 1) mas que por fim acabam-se por multiplicar por 29.
Na linha 12 podemos encontrar o maior numero de notas por linha o que é perfeitamente normal visto que, estamos a chegar ao final da obra. Ao contrário da linha 12 a linha 13 tem o maior número de fermatas (13) em toda a peça. Este número como já referi anteriormente bastante presente na estrutura de toda a obra. Com isso dá-nos a sensação de que a peça está a chegar ao fim. Podemos ver também que as notas são bastante repetitivas e o ritmo é bastante simples composto apenas por colcheias semicolcheias e tercinas. A peça termina exactamente como começa, com o "si" curto (acentuação) .